Acabo de chegar de Itambé! Passei o Natal com meus queridos amigos na casa de Manoel...Comida e companhia das melhores...Aproveitei os dias que passei por lá, para reencontrar pessoas, conversar, fotografar e trocar informações...Entre estes encontros, entrevistei Cristiano Melo Gusmão, artista de mão cheia que tanto contribui com a cultura da cidade..Cris além de encabeçar o elenco da ação "A cidade sou eu", criou a instalação cenográfica para a apresentação, dando um charme a mais ao Casarão Vila Diolinda, sem contar o apoio moral e as dicas que ele sempre me dava quando eu me encontrava em perigo, ou perdido, rssrrsrs...Cris é um amigo de infância e participamos juntos do Grupo de Teatro Astral. Obrigado, Cris, a você e sua familia. Para ilustrar as reflexões deste artista, posto aqui cinco fotos de um ensaio feito na entrada do casarão em uma de nossas tardes de ócio criativo.
"Para mim foi uma novidade. Quando você propõe essa visão diferenciada trazendo uma nova forma de teatro, saindo do palco, ou indo para rua não daquela forma mambembe de se ver, mas algo que inquieta as pessoas. Para mim, que tenho uma preocupação com o visual ela se torna ao mesmo tempo fácil e difícil. Fácil porque eu não preciso me preocupar com o cenário, ter que montar, ter que fazer. O espaço é o cenário. A questão visual é o que vai inquietar as pessoas, o que as pessoas vão ver e o que vai fazer as estas pessoas indagarem: o que é isso que está acontecendo? qual a mensagem? porquê? que situação é essa?
A primeira vez que eu li um texto eu fui problematizando e solucionando de acordo o pensamento de cada um deles. Como eu conheço muita gente aqui, a cada texto lido eu ia identificando a pessoa entrevistada, que deu origem àquele texto. Por entender as pessoas, por ouvir as pessoas, por saber a visão que elas têm a respeito de cultura, de educação, de política, me facilitava o entendimento. Saber o que as pessoas pensam, o que elas querem, que mudança elas querem provocar na sociedade é muito importante. O que me intrigou em todos os textos é que muitas pessoas apontavam problemas mas não apontavam soluções para resolver esses problemas. Foram poucos os textos que apontavam soluções para os problemas culturais, sociais, políticos e até religiosos, que a gente sabe que tem, como o preconceito, por exemplo. As religiões às vezes proíbem o desenvolvimento cultural como se fosse algo maléfico para seus fiéis. Um adolescente evangélico, por exemplo, não pode cantar, ou dançar, ou fazer teatro na escola. Isso dificulta este desenvolvimento. Falar de cultura é falar do seu povo e isto independe de religiões ou posicionamento político.
Essa casa faz parte de minha infância. Mesmo com textos dizendo coisas diferenciadas, a cada momento que eu olhava para algum canto da casa era uma parte de minha infância que vinha comigo, e eu enxergava a visão que as pessoas têm da cidade e ao mesmo tempo preso a um lugar que me trazia essas coisas boas da minha infância, da minha adolescência. A casa é um marco na cidade, faz parte da história e da cultura. Este casarão foi construído a mando de Rogério Gusmão, um dos prefeitos da cidade O nome Villa Diolinda, foi dado em homenagem a sua mulher. Segundo meu pai, que viveu nessa casa, originalmente o casarão era bem diferente, a estrutura continua a mesma, mas as pinturas eram diferentes com arabescos e pinturas, desenhos de vasos com flores no interior da casa. As tonalidades iam do amarelo ouro aos tons de azul turquesa e branco. Depois o casarão foi passado para outros donos que fizeram modificações. Quando eu comecei a participar da vida social dessa casa os proprietários eram Francisco Xavier (conhecido por Chico do ovo) e Lourdes Xavier, sua esposa. A propriedade ainda pertence à família e está sob os cuidados de Zoraide filha do casal". (Cristiano Melo Gusmão - Artista de multiplas funções).
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
domingo, 12 de dezembro de 2010
Ela tem o poder!
Cintiana, é assim que a tratamos carinhosamente. Esta guerreira que acaba de ser avó, está em nossas vidas há muito tempo. Ela começou no esporte, se envolveu com a dança, com o teatro onde nos encontramos através do grupo Astral, voltou-se para a Educação Física e hoje além de dar aulas ela se ocupa com unhas e dentes, para dar dignidade aos portadores de necessidades especiais em Itambé através da APAE, instuição que ela coordena na cidade...Cíntia participou ativamente do meu processo de pesquisa além de atuar na ação "A cidade sou eu"...Publico aqui, suas impressões sobre o processo...
"O texto que apresentamos foi de suma importância para mim
pois retrata a vida da nossa cidade que é ou desconhecida ou escondida. Muitas informações não me surpreenderam pois conheço a realidade da cidade, sei que vivemos em torno de uma politicagem onde só é privilegiado uma minoria. Vivemos uma verdadeira ditadura. Foi pouco tempo no processo, mas foram dias super válidos. Viajei! Muitas recordações, um filme passou pela minha cabeça. Uma idéia extraordinária essa, você pensou em tudo, nos fez sentir no palco novamente com sua visão inovadora sobre o Teatro.
ADOREI!!!!
Que tal fazermos novamente?" (Cíntia Gusmão).
"O texto que apresentamos foi de suma importância para mim
pois retrata a vida da nossa cidade que é ou desconhecida ou escondida. Muitas informações não me surpreenderam pois conheço a realidade da cidade, sei que vivemos em torno de uma politicagem onde só é privilegiado uma minoria. Vivemos uma verdadeira ditadura. Foi pouco tempo no processo, mas foram dias super válidos. Viajei! Muitas recordações, um filme passou pela minha cabeça. Uma idéia extraordinária essa, você pensou em tudo, nos fez sentir no palco novamente com sua visão inovadora sobre o Teatro.
ADOREI!!!!
Que tal fazermos novamente?" (Cíntia Gusmão).
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sábado, 27 de novembro de 2010
O menino Rio-Bahia!
Comecei a escrever o terceiro capítulo e meu deu uma vontade de ouvir os atores que parciparam das ações cênicas. O primeiro a responder minhas questões foi Hugo Camizão. Ator itambeense que estuda teatro no Rio de Janeiro. De férias em Itambé ele colaborou muito com o processo tanto como ator quanto como amigo, fotógrafo, cinegrafista. Aqui, algumas impressões dele sobre o trabalho.
Sobre o projeto:
"Participar desse projeto foi muito forte pra mim, porque estou morando fora de Itambé há algum tempo e ter a chance de atuar na minha cidade natal, junto com amigos meus, com textos de conterrâneos meus, em espaços conhecidos meus, da minha infância, adolescência, onde vivi experiências importantes da minha história, foi maravilhoso".
Sobre a relação das pessoas com a cidade:
"Percebi um afeto pela cidade, uma vontade de que as coisas mudem pra melhor, que rencoheçamos nossos valores artísticos e históricos".
Sobre a encenação no casarão Villa Diolinda:
"Achei a ideia muito boa, porque não havia lugar melhor pra falar de Itambé do que o Casarão Villa Diolinda que tem história viva em suas paredes. A localização geográfica, num ponto alto, ajudou bastante na composição das cenas. Com seus janelões abertos para as montanhas e ruas de Itambé, parecia que nossa visão varria cada lugarzinho da cidade. É como se Itambé fosse condensada naquela espaço, e enquanto acompanhávamos as cenas nas várias partes do Casarão estávamos também passeando por Itambé, seus habitantes e suas vidas".
Sobre os textos:
"Não tem como separar a história do meio em que a gente cresceu da nossa história de vida, e ficou bastante claro nos textos essa ligação cidade/vida. São anseios em comum, de pessoas que conhecem o local onde vivem e sabem que suas histórias estão intimamente ligadas à história de Itambé, logo desejam melhorias na política, na saúde, nas artes etc., porque sabem que estão transformando pra melhor suas próprias vidas". (Hugo Camizão)
Sobre o projeto:
"Participar desse projeto foi muito forte pra mim, porque estou morando fora de Itambé há algum tempo e ter a chance de atuar na minha cidade natal, junto com amigos meus, com textos de conterrâneos meus, em espaços conhecidos meus, da minha infância, adolescência, onde vivi experiências importantes da minha história, foi maravilhoso".
Sobre a relação das pessoas com a cidade:
"Percebi um afeto pela cidade, uma vontade de que as coisas mudem pra melhor, que rencoheçamos nossos valores artísticos e históricos".
Sobre a encenação no casarão Villa Diolinda:
"Achei a ideia muito boa, porque não havia lugar melhor pra falar de Itambé do que o Casarão Villa Diolinda que tem história viva em suas paredes. A localização geográfica, num ponto alto, ajudou bastante na composição das cenas. Com seus janelões abertos para as montanhas e ruas de Itambé, parecia que nossa visão varria cada lugarzinho da cidade. É como se Itambé fosse condensada naquela espaço, e enquanto acompanhávamos as cenas nas várias partes do Casarão estávamos também passeando por Itambé, seus habitantes e suas vidas".
Sobre os textos:
"Não tem como separar a história do meio em que a gente cresceu da nossa história de vida, e ficou bastante claro nos textos essa ligação cidade/vida. São anseios em comum, de pessoas que conhecem o local onde vivem e sabem que suas histórias estão intimamente ligadas à história de Itambé, logo desejam melhorias na política, na saúde, nas artes etc., porque sabem que estão transformando pra melhor suas próprias vidas". (Hugo Camizão)
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quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Ação e discurso - Segundo capítulo
Publico aqui oito tópicos relacionados ao segundo capitulo da dissertação.
1-Como um reflexo do que a sociedade vive, vários artistas foram responsáveis pela transformação do fazer teatral ao longo dos anos como forma de aproximação com o público.
2- Lançar mão do teatro e colocar o cidadão no centro do debate é o maior desafio deste trabalho de mestrado.
3- O que proponho é a realização de ações cênicas como forma de estimular a participação do individuo na cena cultural de sua cidade unindo ação e discurso.
4- E a meta aqui é estar próximo do público. É se confundir com o próprio público, se diluir, se misturar. Quebrar paredes e barreiras que separam e distanciam quem age e quem observa esta ação. O importante é que, em algum momento, todos estejam agindo juntos.
5- Nesta pesquisa apresento as ações não em ordem cronológica, mas, pelo número de habitantes envolvidos e também pelo tempo de preparação necessário para a realização de cada uma delas, além dos trabalhos que necessitaram de reuniões, ensaios e uma produção mais apurada.
6- Com o passar dos dias em Itambé, novas questões surgiam na minha cabeça. A cada ação realizada novos debates se estabeleciam gerando discussões aprofundadas sobre os temas abordados. Um dado importante que sempre surgia nas conversas era a quantidade de jovens e idosos existentes na cidade.
7- Praticar o conceito de ação cênica defendido aqui neste projeto trouxe um novo ritmo ao cotidiano daquelas pessoas, levando em conta que pôr a arte a serviço do urbano não significa de modo algum enfeitar o espaço urbano com objetos de arte (LEFEBVRE, 1991, p.134) mas sim, enchê-lo de vida, estimular as relações entre as pessoas, favorecer o encontro, fazer circular idéias. Um direito de todo cidadão.
8- Agir cenicamente na busca de uma cidade aberta para o fazer artístico. Pensar a cidade a partir da relação de cada morador e assim construir um texto que traduza esta imagem coletiva deste lugar é o próximo passo desta pesquisa.
1-Como um reflexo do que a sociedade vive, vários artistas foram responsáveis pela transformação do fazer teatral ao longo dos anos como forma de aproximação com o público.
2- Lançar mão do teatro e colocar o cidadão no centro do debate é o maior desafio deste trabalho de mestrado.
3- O que proponho é a realização de ações cênicas como forma de estimular a participação do individuo na cena cultural de sua cidade unindo ação e discurso.
4- E a meta aqui é estar próximo do público. É se confundir com o próprio público, se diluir, se misturar. Quebrar paredes e barreiras que separam e distanciam quem age e quem observa esta ação. O importante é que, em algum momento, todos estejam agindo juntos.
5- Nesta pesquisa apresento as ações não em ordem cronológica, mas, pelo número de habitantes envolvidos e também pelo tempo de preparação necessário para a realização de cada uma delas, além dos trabalhos que necessitaram de reuniões, ensaios e uma produção mais apurada.
6- Com o passar dos dias em Itambé, novas questões surgiam na minha cabeça. A cada ação realizada novos debates se estabeleciam gerando discussões aprofundadas sobre os temas abordados. Um dado importante que sempre surgia nas conversas era a quantidade de jovens e idosos existentes na cidade.
7- Praticar o conceito de ação cênica defendido aqui neste projeto trouxe um novo ritmo ao cotidiano daquelas pessoas, levando em conta que pôr a arte a serviço do urbano não significa de modo algum enfeitar o espaço urbano com objetos de arte (LEFEBVRE, 1991, p.134) mas sim, enchê-lo de vida, estimular as relações entre as pessoas, favorecer o encontro, fazer circular idéias. Um direito de todo cidadão.
8- Agir cenicamente na busca de uma cidade aberta para o fazer artístico. Pensar a cidade a partir da relação de cada morador e assim construir um texto que traduza esta imagem coletiva deste lugar é o próximo passo desta pesquisa.
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segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Puxa o fole Zé!
Hoje vou apresentar para vocês mais um entrevistado ilustre de minha pesquisa. Zé de Sula dos Oito Baixos, sanfoneiro dos bons que com muita garra, luta pela preservação e manutenção desta que é uma das mais importantes manifestações culturais da cidade: a arte de tocar sanfona. Zé de Sula começou sua paixão pela música em 1967 tocando em festas no interior, nas roças e nas fazendas. Apreciem um pouco desta arte neste vídeo gravado durante os ensaios do grupo que se preparava para os festejos juninos de 2010.
“Fui me aperfeiçoando cada vez mais. Depois pedi para meu pai comprar uma sanfona de oito baixos para mim. Ai eu comecei a tocar em várias festas. Comecei minha carreira junto com Edgar Mão Branca. Devido a meu pai se chamar Sula, meu nome ficou Zé de Sula dos Oito Baixos, sanfoneiro. E eu continuo na luta até hoje, tocando, aperfeiçoando cada vez mais. Tocando em Itapetinga, Vitória da Conquista, aqui em Itambé e por ai vai. Itambé é um lugar muito bom de viver, de morar. Não tem um meio de vida elevado de empregos, mas é um lugar bom para morar. Aqui eu participo das atividades culturais organizando o encontro de sanfoneiros que tem aqui, participo dessa associação de sanfoneiros e participo dos eventos também. Faço shows. Eu nasci aqui e gosto daqui. Tem o ar puro, a natureza. Gosto da cidade. Aqui falta o livre arbítrio para participar mais. Gostaria de criar uma escola de música para as crianças. Sanfona, triângulo, zabumba para mais tarde eles darem continuidade às festividades e à cultura de nossa cidade”. (Zé de Sula dos Oito Baixos – Sanfoneiro – 58 anos)
“Fui me aperfeiçoando cada vez mais. Depois pedi para meu pai comprar uma sanfona de oito baixos para mim. Ai eu comecei a tocar em várias festas. Comecei minha carreira junto com Edgar Mão Branca. Devido a meu pai se chamar Sula, meu nome ficou Zé de Sula dos Oito Baixos, sanfoneiro. E eu continuo na luta até hoje, tocando, aperfeiçoando cada vez mais. Tocando em Itapetinga, Vitória da Conquista, aqui em Itambé e por ai vai. Itambé é um lugar muito bom de viver, de morar. Não tem um meio de vida elevado de empregos, mas é um lugar bom para morar. Aqui eu participo das atividades culturais organizando o encontro de sanfoneiros que tem aqui, participo dessa associação de sanfoneiros e participo dos eventos também. Faço shows. Eu nasci aqui e gosto daqui. Tem o ar puro, a natureza. Gosto da cidade. Aqui falta o livre arbítrio para participar mais. Gostaria de criar uma escola de música para as crianças. Sanfona, triângulo, zabumba para mais tarde eles darem continuidade às festividades e à cultura de nossa cidade”. (Zé de Sula dos Oito Baixos – Sanfoneiro – 58 anos)
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terça-feira, 2 de novembro de 2010
A voz que não quer calar!
Paulão, como é conhecido por todos em Itambé, é uma pessoa muito importante na minha vida. Quando comecei a fazer teatro, ainda criança, ele foi no grupo de teatro Astral, um dos atores que me encorajava a continuar. Para a realização desta entrevista ele escolheu o casarão que abrigou durante anos a fábrica de latícinios "Garota". Com o fim da fábrica este casarão, patrimônio da cidade, continua abandonado até hoje. Já pensaram em instalar por ali um centro cultural como vocês podem ler nas letras em azul, quase apagadas pelo tempo: Centro Cultural Pedra Afiada. Hoje o local é utilizado para ensaios de bandas musicais o que compromete a estrutura por conta do som emitido pelos instrumentos. Os artistas cansaram de lutar pela preservação deste espaço. Segue aqui um pouco da entrevista com este itambeense ilustre.
"Eu sou Paulo Ferreira Silva, conhecido como Paulão, tive uma infância sofrida. Não passei fome, mas passei muita necessidade, onde folha de quiabo já serviu como feijão na nossa casa. Sou facilmente de ser levado, conquistado, mas por muito pouca coisa posso romper uma amizade. Fiz teatro (Grupo Astral) fui criado como um bom católico. Tive essa base religiosa, fui muito ativo em minha religião. Mas depois eu resolvi sair do catolicismo. Fui chefe do grupo de Escoteiros, fui diretor do Coral da igreja, presidente do grupo de jovens. Aprendi muita coisa, especialmente com o Padre Juracy, mas achei por bem não ficar na igreja. Me tornei um protestante. Passei pela igreja Batista, Adventista e há dez anos estou na igreja Testemunhas de Jeová. Hoje eu sou feliz, tenho uma família boa. Duas filhas maravilhosas, uma esposa maravilhosa.
Itambé é uma cidade boa, foi onde eu nasci e cresci. Tem uma história parecida com a minha. Uma cidade sofrida, muito explorada ao mesmo tempo que é uma cidade muito rica. Foi perdendo com o tempo sua originalidade. Essa fábrica, por exemplo, exportava queijo e manteiga para todo Brasil. Acabou. Tá fechada. Aqui tinha três agências bancárias, hoje só existe uma. Muita gente adquiriu riqueza e foi viver fora daqui. Tudo que a cidade tinha foi perdido: os minérios, as madeiras, os rios.
Aqui eu passei grande parte de minha infância. Um período de grande pobreza. A gente vinha aqui pegar soro do leite pra se alimentar. Naquela época quando um pobre tinha acesso à carne era por conta do osso. Não tinha carne na casa do pobre. Esse casarão é histórico na cidade e deveria ser tombado. Aqui os coronéis prendiam pessoas para matá-las depois. Eles trocavam tiros dessas janelas. Aqui é o lugar mais importante da cidade pra mim.
Todo movimento cultural na cidade é movido pela política. Ou é a favor dos mais fortes ou a favor dos mais fracos. Você não tem motivação para ser uma pessoa da cultura na cidade. Livre. A cultura aqui é escrava.
Aqui já teve o grupo de Teatro Astral que acabou com o tempo. Não tivemos apoio nem motivação para continuarmos trabalhando. Tem muita coisa acontecendo nos colégios, mas na cidade, fora dos colégios, nada acontece. Entre as manifestações tínhamos o carnaval que era o melhor da região.
A única coisa que me faz permanecer aqui é o amor por essa cidade. Quem tem comércio aqui sofre junto com a cidade, porque o movimento no comércio aqui só acontece no final do mês, fora isso, as pessoas compram no comercio de Conquista. O que segura a gente neste lugar se não o amor?
O povo de Itambé não perde o vigor. Nós estamos dispostos a dar vida pela cidade. Tem muita gente assim aqui. Muitas estão indo embora, mas tem ainda gente que pode dar vida por esta cidade". (Paulo Ferreira, Comerciante, 48 anos)
"Eu sou Paulo Ferreira Silva, conhecido como Paulão, tive uma infância sofrida. Não passei fome, mas passei muita necessidade, onde folha de quiabo já serviu como feijão na nossa casa. Sou facilmente de ser levado, conquistado, mas por muito pouca coisa posso romper uma amizade. Fiz teatro (Grupo Astral) fui criado como um bom católico. Tive essa base religiosa, fui muito ativo em minha religião. Mas depois eu resolvi sair do catolicismo. Fui chefe do grupo de Escoteiros, fui diretor do Coral da igreja, presidente do grupo de jovens. Aprendi muita coisa, especialmente com o Padre Juracy, mas achei por bem não ficar na igreja. Me tornei um protestante. Passei pela igreja Batista, Adventista e há dez anos estou na igreja Testemunhas de Jeová. Hoje eu sou feliz, tenho uma família boa. Duas filhas maravilhosas, uma esposa maravilhosa.
Itambé é uma cidade boa, foi onde eu nasci e cresci. Tem uma história parecida com a minha. Uma cidade sofrida, muito explorada ao mesmo tempo que é uma cidade muito rica. Foi perdendo com o tempo sua originalidade. Essa fábrica, por exemplo, exportava queijo e manteiga para todo Brasil. Acabou. Tá fechada. Aqui tinha três agências bancárias, hoje só existe uma. Muita gente adquiriu riqueza e foi viver fora daqui. Tudo que a cidade tinha foi perdido: os minérios, as madeiras, os rios.
Aqui eu passei grande parte de minha infância. Um período de grande pobreza. A gente vinha aqui pegar soro do leite pra se alimentar. Naquela época quando um pobre tinha acesso à carne era por conta do osso. Não tinha carne na casa do pobre. Esse casarão é histórico na cidade e deveria ser tombado. Aqui os coronéis prendiam pessoas para matá-las depois. Eles trocavam tiros dessas janelas. Aqui é o lugar mais importante da cidade pra mim.
Todo movimento cultural na cidade é movido pela política. Ou é a favor dos mais fortes ou a favor dos mais fracos. Você não tem motivação para ser uma pessoa da cultura na cidade. Livre. A cultura aqui é escrava.
Aqui já teve o grupo de Teatro Astral que acabou com o tempo. Não tivemos apoio nem motivação para continuarmos trabalhando. Tem muita coisa acontecendo nos colégios, mas na cidade, fora dos colégios, nada acontece. Entre as manifestações tínhamos o carnaval que era o melhor da região.
A única coisa que me faz permanecer aqui é o amor por essa cidade. Quem tem comércio aqui sofre junto com a cidade, porque o movimento no comércio aqui só acontece no final do mês, fora isso, as pessoas compram no comercio de Conquista. O que segura a gente neste lugar se não o amor?
O povo de Itambé não perde o vigor. Nós estamos dispostos a dar vida pela cidade. Tem muita gente assim aqui. Muitas estão indo embora, mas tem ainda gente que pode dar vida por esta cidade". (Paulo Ferreira, Comerciante, 48 anos)
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sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Um dia de feira
Na cidade, o sábado é o dia no qual o comércio tem mais movimento por ser o dia da feira. A cidade fica mais movimentada no sábado. É como se cada morador tivesse um motivo para ir à rua, ao centro, ao comércio. É na praça San Filli que acontece a feira livre, o lugar mais importante de sociabilidade. É nela onde, pelo menos uma vez por semana, as pessoas se encontram. Nos dias de feira a praça San Filli exibe pequenas barracas onde os feirantes locais e moradores da zona rural aparecem para vender os produtos cultivados por eles mesmos em suas terras ou quintais. Para os pequenos agricultores ir à cidade significa, além do comércio de suas mercadorias, saber das novidades, ficar a par dos acontecimentos que não são muitos.
Neste vídeo mostro uma personagem que me chamou à atenção. Uma vendedora de produtos naturais que são capazes de curar tudo, prestem atenção no texto dela.
Vai querer uma garrafada?!!!
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quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Um capítulo em onze tópicos
Já iniciei a escrita da dissertação. Agora divido com vocês onze tópicos importantes, identificados como estrutura base do primeiro capítulo. Estes tópicos servem como roteiro que resume todo o processo metodológico da pesquisa: atuação, reflexão e conclusão. Agora é partir para a escrita dos próximos capítulos.
1- Em tupi guarani, Itambé significa pedra afiada. Para muitos dos seus moradores o nome em tupi é uma metáfora que simboliza a força de seu povo.
2- Aqui trataremos de como a arte pode sobreviver por ela mesma, como uma cidade que não tem acesso diversificado à cultura, que é de direito, pode reinventar a cena cultural local.
3- Analisar o fenômeno que surge do encontro entre um morador e um lugar escolhido por ele, a partir da fenomenologia da percepção, foi o suporte para o desenvolvimento desta pesquisa.
4- Estimular os moradores desta cidade a ocupar os espaços públicos através de ações cênicas, encorajando-os a acessá-los física e simbolicamente.
5- A valorização do acaso sempre esteve presente durante todas as etapas da pesquisa
6- A cidade precisa reconhecer a sua história e ela está ali, embrenhada em cada rua, cada praça, cada canto escondido. Está no olhar, nas marcas do rosto, na poeira que cobre os muros, nos muros e portas, nas passagens, nos caminhos que nos levam para o interior profundo que podemos sentir quando estamos livres e abertos para o desconhecido.
7- Alguns entrevistados escolheram lugares afastados da zona urbana, lugares que privilegiam a beleza natural da cidade.
8- Como este trabalho, em alguns momentos, se baseia na tradição oral de contar uma história, é a visão do morador que nos interessa, como ele conta estes fatos importantes da cidade.
9- Neste caso, em que a história recente ainda não foi contada nos livros e que poucos estudos foram dedicados a este assunto, foi fundamental ouvir as versões dos moradores sobre a história de formação da cidade como uma maneira também de compreender quem é o itambeense de hoje, levando-se em conta os povos que formaram esta cidade.
10- Em suas manifestações culturais, a cidade precisa pensar esta hibridação como algo positivo na manutenção de tradições que vêm se perdendo.
11- Ao analisar as fichas de identificação dos entrevistados confirmo que a cidade dispõe de vários lugares de sociabilidade, mas, que não são ocupados/utilizados pelos moradores. Alguns entrevistados tiveram dificuldade em escolher um lugar especial, que lhes despertassem algum sentimento, onde realizaríamos a entrevista. O lugar mais escolhido foi a praça São Sebastião onde se localiza a igreja matriz.
1- Em tupi guarani, Itambé significa pedra afiada. Para muitos dos seus moradores o nome em tupi é uma metáfora que simboliza a força de seu povo.
2- Aqui trataremos de como a arte pode sobreviver por ela mesma, como uma cidade que não tem acesso diversificado à cultura, que é de direito, pode reinventar a cena cultural local.
3- Analisar o fenômeno que surge do encontro entre um morador e um lugar escolhido por ele, a partir da fenomenologia da percepção, foi o suporte para o desenvolvimento desta pesquisa.
4- Estimular os moradores desta cidade a ocupar os espaços públicos através de ações cênicas, encorajando-os a acessá-los física e simbolicamente.
5- A valorização do acaso sempre esteve presente durante todas as etapas da pesquisa
6- A cidade precisa reconhecer a sua história e ela está ali, embrenhada em cada rua, cada praça, cada canto escondido. Está no olhar, nas marcas do rosto, na poeira que cobre os muros, nos muros e portas, nas passagens, nos caminhos que nos levam para o interior profundo que podemos sentir quando estamos livres e abertos para o desconhecido.
7- Alguns entrevistados escolheram lugares afastados da zona urbana, lugares que privilegiam a beleza natural da cidade.
8- Como este trabalho, em alguns momentos, se baseia na tradição oral de contar uma história, é a visão do morador que nos interessa, como ele conta estes fatos importantes da cidade.
9- Neste caso, em que a história recente ainda não foi contada nos livros e que poucos estudos foram dedicados a este assunto, foi fundamental ouvir as versões dos moradores sobre a história de formação da cidade como uma maneira também de compreender quem é o itambeense de hoje, levando-se em conta os povos que formaram esta cidade.
10- Em suas manifestações culturais, a cidade precisa pensar esta hibridação como algo positivo na manutenção de tradições que vêm se perdendo.
11- Ao analisar as fichas de identificação dos entrevistados confirmo que a cidade dispõe de vários lugares de sociabilidade, mas, que não são ocupados/utilizados pelos moradores. Alguns entrevistados tiveram dificuldade em escolher um lugar especial, que lhes despertassem algum sentimento, onde realizaríamos a entrevista. O lugar mais escolhido foi a praça São Sebastião onde se localiza a igreja matriz.
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terça-feira, 5 de outubro de 2010
Imagens e palavras!
Este blog foi criado para registrar minha pesquisa e estabelecer um debate entre arte e cidade, mas de uma forma mais abrangente, mais humana, mais coletiva...Aqui neste debate Itambé é uma metáfora para nossas reflexões...Neste momento eu estou escrevendo o primeiro capitulo da dissertação e me pergunto? Como vou passar para os leitores meu olhar sobre a cidade? Neste capitulo escrevo sobre informações históricas e culturais da cidade, apresento a metodologia, principais autores e alguns personagens e, claro, descrevo lugares desta cidade...Este exercício tem exigido de mim um frescor na memória, então resolvi dividir com vocês o resultado de um exercício de memória...Alguns minutos em silêncio e eu volto meu pensamento para Itambé, recupero algum momento importante de meus dias por lá e me vêm imagens e palavras...Escrevo sem pensar...Me mantenho neste processo por alguns dez, vinte minutos...Repito o exercício...Depois me dedico a rever as mais de doze mil imagens que fiz da cidade enquanto estive por lá...Escolho quinze para dividir com vocês e publico também o texto que surgiu do exercício como forma de alimentar e manter viva minha memória...
"Preencher o vazio, decifrar as cores do tempo, as cores da dor!
Entrar,
Sair,
Ir,
Voltar,
Ouvir.
Deixa eu te ver,
Por dentro,
Por fora.
Vamos juntos, invadir a cidade com arte,
Vamos viver uma cidade obra de arte, juntos.
Um ser tecendo o tempo, construindo vidas.
Um viajante e sua mala cheia de história"
"Preencher o vazio, decifrar as cores do tempo, as cores da dor!
Entrar,
Sair,
Ir,
Voltar,
Ouvir.
Deixa eu te ver,
Por dentro,
Por fora.
Vamos juntos, invadir a cidade com arte,
Vamos viver uma cidade obra de arte, juntos.
Um ser tecendo o tempo, construindo vidas.
Um viajante e sua mala cheia de história"
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terça-feira, 28 de setembro de 2010
Leia, leia...A Tarde
Saiu hoje no jornal A Tarde, um artigo escrito por mim. Como a imagem scaneada não possibilita a leitura, publico logo abaixo o texto na integra...Vamos abrir o debate da independência cultural de todas as cidades do Estado da Bahia.
Caldeirão Cultural (?)
Marcelo Sousa Brito
Ator e diretor, mestrando em artes cênicas pela UFBA
marcelo.sousabrito@gmail.com
Já estamos cansados de ouvir falar que a Bahia é um caldeirão cultural. Mas o que pouco se fala é que nesta mesma Bahia existe uma Bahia que o próprio baiano desconhece: a Bahia que se encontra no fundo deste caldeirão. Afastadas dos grandes centros urbanos, as cidades de pequeno porte vivem às margens do desenvolvimento cultural e lutam para manter vivas suas tradições e manifestações culturais. Muitos artesãos abandonam o oficio, que, muitas vezes, é o meio de sustentar a família, porque as grandes lojas, as grandes marcas já vendem nos shoppings versões “repaginadas” de produtos que encontramos nas feiras e nos mercados. Cria-se assim uma concorrência desleal com quem não tem a propaganda nem as grandes modelos vendendo suas criações.
No interior, tanto da Bahia como de qualquer Estado brasileiro, é comum encontrar cidades nesta situação. Os governos, os patrocinadores, as grandes empresas só se interessam em financiar aquilo que está próximo do grande público, o que oferece visibilidade imediata. Assim, o artista que está distante de onde a mídia se concentra vê o seu oficio ameaçado. Itambé é uma cidade assim. Situada no sudoeste da Bahia, entre Vitória da Conquista e Itapetinga, esta cidadezinha de aproximadamente trinta e três mil habitantes e oitenta e três anos de emancipação política vive neste momento um silêncio, um vazio cultural.
Muitas ações vêm sendo desenvolvidas e criadas para favorecer a descentralização de verbas públicas para a cultura, mas há de se pensar no atraso em que estas localidades estão em relação aos meios de informação/comunicação. Estas verbas disponibilizadas pelos governos (Municipal, Estadual e Federal), para atender a população de forma democrática, são oferecidas através de editais, cujos formulários de inscrição são preenchidos on-line pela internet. Mas, nenhuma ação ou serviço foi oferecido para os artistas de Itambé, que em sua grande maioria ou não possui computador/internet em casa ou não teve a oportunidade de se familiarizar com a ferramenta. Inviabiliza-se, assim, que um grupo de terno de reis da cidade, por exemplo, grave um CD para que as novas gerações conheçam esta manifestação quase em extinção. Itambé não é um caso isolado e sim mais um exemplo.
Vivi, durante seis meses, o cotidiano da cidade, onde realizei a pesquisa de campo de meu projeto de Mestrado “Pedra afiada: um convite para o teatro invadir a cidade”, registrada no endereço www.pedraafiada.blogspot.com. Fui em busca de uma imagem coletiva desta cidade, em busca da opinião destes habitantes que estão ali esperando que algo aconteça: com eles e com a cidade.
Foi uma batalha diária fazer romper as barreiras construídas ao longo da história da cidade no tocante à falta de hábito dos moradores de ocupar os espaços públicos urbanos, de vencer o medo de sair de casa e enfrentar o desconhecido, o novo. Mas uma coisa não foi difícil: sentir que os itambeenses não só esperam algo acontecer como estão preparados para a mudança. O estímulo, o acompanhamento, a assessoria, o acesso à informação é que estão faltando. Invadir a cidade e fazer o cidadão pensar, refletir, agir através da arte dá um novo vigor ao debate. Oferece meios de pensar/viver a cidade produzindo um conhecimento que passará por gerações.
Itambé é uma cidade nova. Não encontramos obras de arte antigas ou modernas pelas ruas. Não temos no seu patrimônio nenhuma grande criação da arquitetura, mas lá, nos planaltos, montanhas e vales desta região peculiar deste Estado chamado Bahia, nós encontramos um povo disposto a defender seu lugar, a aprender a conviver com a distância, mas pronto também para saber como diminuí-la. Os habitantes de Itambé, assim como de qualquer cidade deste imenso fundo do caldeirão chamado Brasil, querem ter os mesmos direitos e deveres sem sair de onde eles estão: longe dos grandes centros.
Caldeirão Cultural (?)
Marcelo Sousa Brito
Ator e diretor, mestrando em artes cênicas pela UFBA
marcelo.sousabrito@gmail.com
Já estamos cansados de ouvir falar que a Bahia é um caldeirão cultural. Mas o que pouco se fala é que nesta mesma Bahia existe uma Bahia que o próprio baiano desconhece: a Bahia que se encontra no fundo deste caldeirão. Afastadas dos grandes centros urbanos, as cidades de pequeno porte vivem às margens do desenvolvimento cultural e lutam para manter vivas suas tradições e manifestações culturais. Muitos artesãos abandonam o oficio, que, muitas vezes, é o meio de sustentar a família, porque as grandes lojas, as grandes marcas já vendem nos shoppings versões “repaginadas” de produtos que encontramos nas feiras e nos mercados. Cria-se assim uma concorrência desleal com quem não tem a propaganda nem as grandes modelos vendendo suas criações.
No interior, tanto da Bahia como de qualquer Estado brasileiro, é comum encontrar cidades nesta situação. Os governos, os patrocinadores, as grandes empresas só se interessam em financiar aquilo que está próximo do grande público, o que oferece visibilidade imediata. Assim, o artista que está distante de onde a mídia se concentra vê o seu oficio ameaçado. Itambé é uma cidade assim. Situada no sudoeste da Bahia, entre Vitória da Conquista e Itapetinga, esta cidadezinha de aproximadamente trinta e três mil habitantes e oitenta e três anos de emancipação política vive neste momento um silêncio, um vazio cultural.
Muitas ações vêm sendo desenvolvidas e criadas para favorecer a descentralização de verbas públicas para a cultura, mas há de se pensar no atraso em que estas localidades estão em relação aos meios de informação/comunicação. Estas verbas disponibilizadas pelos governos (Municipal, Estadual e Federal), para atender a população de forma democrática, são oferecidas através de editais, cujos formulários de inscrição são preenchidos on-line pela internet. Mas, nenhuma ação ou serviço foi oferecido para os artistas de Itambé, que em sua grande maioria ou não possui computador/internet em casa ou não teve a oportunidade de se familiarizar com a ferramenta. Inviabiliza-se, assim, que um grupo de terno de reis da cidade, por exemplo, grave um CD para que as novas gerações conheçam esta manifestação quase em extinção. Itambé não é um caso isolado e sim mais um exemplo.
Vivi, durante seis meses, o cotidiano da cidade, onde realizei a pesquisa de campo de meu projeto de Mestrado “Pedra afiada: um convite para o teatro invadir a cidade”, registrada no endereço www.pedraafiada.blogspot.com. Fui em busca de uma imagem coletiva desta cidade, em busca da opinião destes habitantes que estão ali esperando que algo aconteça: com eles e com a cidade.
Foi uma batalha diária fazer romper as barreiras construídas ao longo da história da cidade no tocante à falta de hábito dos moradores de ocupar os espaços públicos urbanos, de vencer o medo de sair de casa e enfrentar o desconhecido, o novo. Mas uma coisa não foi difícil: sentir que os itambeenses não só esperam algo acontecer como estão preparados para a mudança. O estímulo, o acompanhamento, a assessoria, o acesso à informação é que estão faltando. Invadir a cidade e fazer o cidadão pensar, refletir, agir através da arte dá um novo vigor ao debate. Oferece meios de pensar/viver a cidade produzindo um conhecimento que passará por gerações.
Itambé é uma cidade nova. Não encontramos obras de arte antigas ou modernas pelas ruas. Não temos no seu patrimônio nenhuma grande criação da arquitetura, mas lá, nos planaltos, montanhas e vales desta região peculiar deste Estado chamado Bahia, nós encontramos um povo disposto a defender seu lugar, a aprender a conviver com a distância, mas pronto também para saber como diminuí-la. Os habitantes de Itambé, assim como de qualquer cidade deste imenso fundo do caldeirão chamado Brasil, querem ter os mesmos direitos e deveres sem sair de onde eles estão: longe dos grandes centros.
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Nara, com a palavra!
Mais uma entrevistada conta um pouco de sua relação com a cidade de Itambé. Com vocês, Nara, com a palavra:
"Nasci em Vitória da Conquista, mas me considero itambeense, por morar aqui desde criança. Amo essa cidade, gosto muito daqui. Tive uma infância muito alegre. Costuma-se dizer que os adultos bem resolvidos foram crianças felizes. Brinquei bastante, me diverti o máximo que pude. Vivi realmente minha infância. Entrei na adolescência no momento certo. Fiquei quatro anos e meio fora daqui, em Conquista, fazendo licenciatura em pedagogia, depois eu retornei para trabalhar aqui. Trabalho como professora e coordenadora pedagógica de escolas e de um projeto de educação para jovens e adultos. Sou Batista, uma parte que tem uma grande influência na formação do meu caráter já que sou Batista desde criança. Itambé é uma cidade pequena, não é uma cidade nova. De certa forma fica desfavorecida geograficamente por estar perto de Vitória da Conquista que é uma cidade maior, com comércio forte, com desenvolvimento bem maior. É uma cidade acolhedora, um povo às vezes sofrido, mas, que nunca desiste. A gente precisa melhorar sempre. Muita coisa dentro da gente precisa ser rompida. Eu sonho com uma cidade bem desenvolvida e sem desigualdade social. As pessoas têm que mudar a idéia de cultura que elas têm, às vezes é oferecido um espetáculo e as pessoas não comparecem, as pessoas têm que sair mais, se despertar. Sair da cultura do barzinho e aproveitar as outras coisas. Temos que evoluir".
Nara Oliveira (Professora, 29 anos)
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
Pedra afiada na TV SUDOESTE
A TV Sudoeste esteve no dia 22.07.2010 na cidade para gravar uma reportagem sobre o andamento do projeto. Para aproveitar a visita, uma grande ação foi realizada na Praça Municipal (Praça Osório Ferraz) . Várias pessoas compareceram com o intuito de ocupar este espaço com alegria, cor, vida...arte! A ideia era experimentar todas as possibilidades de ocupação de um espaço público, como pique-nique, leitura, jardinagem, tomar um cafezinho, conversar com os amigos, ações para preservação deste espaço, manifestações ou somente para sentir o tempo passar. Neste trabalho abrimos a possibilidade de refletir também, sobre as pessoas que são excluidas ou que se excluem da apropriação do espaço público.
Câmera AÇÃO!
Reportagem: Renata Menezes
Imagens: Edirlei
Entrevistados:Gianna Barbosa, Marcelo Sousa Brito, Zizi Ferreira e Thide Lira.
Agradecimentos: TV SUDOESTE
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terça-feira, 7 de setembro de 2010
Arte ou tarja preta?
Tem uma situação que sempre me incomoda quando estou em Itambé: o descaso com que os artistas são tratados. Isso inclui a memória dos artistas que se foram e a manutenção da carreira dos artistas que continuam vivos. Claro que isso não acontece só em Itambé, mas em uma cidade pequena onde todos se conhecem é bem mais fácil cuidar dos seus filhos. Há pouco tempo participei de uma homenagem a Eva Figueredo (ver postagem: Um dia chamado EVA) e sai muito emocionado, preocupado com o futuro da arte na cidade. Em Itambé é muito comum você ficar sabendo que um artista deixou o oficio para ser pedreiro, professor, pai, mãe, padeiro, padre, etc. Até ai tudo bem, nenhuma profissão é melhor do que outra. Mas, o que me dói é quando um artista não se sente estimulado a continuar, quando ele se cansa de lutar por algo que só traz benefícios. O acesso a arte é um direito de todo cidadão. Nestes meses que passei em Itambé vivi um reencontro que me chocou muito. Na minha infância fui participar de um show de calouros num circo que estava na cidade e lá eu conheci uma cantora, que viria a ganhar o concurso, muito talentosa. Ana Lídia é o nome dela. Lídia depois deste acontecimento ganhou fama e cantou nas bandas mais importantes da cidade e da região. Uma figura marcante, exótica de voz rouca. Muitas coisas aconteceram na vida dela e hoje Lídia precisa de ajuda, precisa de amor, precisa de música. Ela foi uma de minhas entrevistadas, queria ouvir o que ela tinha a dizer e tentar entender o que tinha acontecido. “Sou cantora, cantei em várias bandas mas, me perdi. Tenho três filhos. Eu nunca fiquei sem trabalhar, desde pequena eu sempre trabalhei e sempre soube que eu não tinha nada nas mãos, se eu tiver um caderno e ver outra pessoa precisando eu dou o caderno, nem que depois eu tenha que pedir um pra mim, quanto mais eu dou mais eu ganho. A vida continua" , desabafa.
Hoje, Ana Lídia está hospitalizada, a base de remédios fortes que a fazem dormir por dias inteiros, mas não é de remédio que ela precisa, aliás o remédio é outro: ela precisa de arte, de música, de confiança. Senti isso no olhar dela. Vários artistas se foram como Carlos Lopes Almeida, Marina Lira, Eva Figueredo e vão sendo esquecidos a cada dia que passa. A nova geração nem sabe que existiu um grupo de teatro chamado Astral. Outros artistas saíram da cidade para aventurar novas possibilidades como eu, Hugo Camizão, Klero Silva e outros tantos continuam a se manter na cidade como Cris Melo Gusmão, Manoel Dias, Cíntia Gusmão, Zizi Ferreira, Thadeu Campos, os meninos das bandas Simplicidade e Alarme Falso,Thide Lira, Dani Rodrigues, Romuel Soubiraus, Cida Lemos e o grupo Hitmu´s, Mateus Cerqueira, Lucio Ribeiro, Zé de Sula,Tadeu Cerqueira, Eduardo, Arilson Almeida. Outros mudaram de oficio como Marcelo e Neilton Rodrigues, Marcão, Paulão, Lucinha. Esses nomes estão vindo na minha cabeça, mas é claro que não conheço todos e é claro que minha memória pode falhar,então me ajudem a manter viva esta lista,vamos fazer um levantamento destes artistas de ontem e de hoje, me mandem informações, colaborem. Ah, por favor, levem música para embalar os dias anestesiados de Ana Lídia, façam isso pela arte que tudo pode curar. Hoje é ela, amanhã pode ser eu, você.
Agora, um momento de silêncio em nome da alma de Lídia. Hoje, 13 de outubro de 2010 ela nos deixou e foi procurar música em outra dimensão...Mais uma estrela que nos deixa para encontrar outras estrelas no céu...Vá lá minha amiga e cante tão profundamente que a gente possa ouvir daqui a sua voz!!!
Hoje, Ana Lídia está hospitalizada, a base de remédios fortes que a fazem dormir por dias inteiros, mas não é de remédio que ela precisa, aliás o remédio é outro: ela precisa de arte, de música, de confiança. Senti isso no olhar dela. Vários artistas se foram como Carlos Lopes Almeida, Marina Lira, Eva Figueredo e vão sendo esquecidos a cada dia que passa. A nova geração nem sabe que existiu um grupo de teatro chamado Astral. Outros artistas saíram da cidade para aventurar novas possibilidades como eu, Hugo Camizão, Klero Silva e outros tantos continuam a se manter na cidade como Cris Melo Gusmão, Manoel Dias, Cíntia Gusmão, Zizi Ferreira, Thadeu Campos, os meninos das bandas Simplicidade e Alarme Falso,Thide Lira, Dani Rodrigues, Romuel Soubiraus, Cida Lemos e o grupo Hitmu´s, Mateus Cerqueira, Lucio Ribeiro, Zé de Sula,Tadeu Cerqueira, Eduardo, Arilson Almeida. Outros mudaram de oficio como Marcelo e Neilton Rodrigues, Marcão, Paulão, Lucinha. Esses nomes estão vindo na minha cabeça, mas é claro que não conheço todos e é claro que minha memória pode falhar,então me ajudem a manter viva esta lista,vamos fazer um levantamento destes artistas de ontem e de hoje, me mandem informações, colaborem. Ah, por favor, levem música para embalar os dias anestesiados de Ana Lídia, façam isso pela arte que tudo pode curar. Hoje é ela, amanhã pode ser eu, você.
Agora, um momento de silêncio em nome da alma de Lídia. Hoje, 13 de outubro de 2010 ela nos deixou e foi procurar música em outra dimensão...Mais uma estrela que nos deixa para encontrar outras estrelas no céu...Vá lá minha amiga e cante tão profundamente que a gente possa ouvir daqui a sua voz!!!
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segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Imagem sem reflexo
Hoje eu passei o dia com saudade de Itambé. Estou na fase de organizar material, escritos, leituras. Uma parte muito difícil da pesquisa se inicia: escrever a dissertação. Botar na tela todas as experimentações, processos, reflexões, dúvidas, conquistas. Se preparar para romper a tela em branco. Entre este material que passou por minhas mãos hoje está um poema escrito por uma grande amiga de infância, moradora de Itambé. Segundo ela, este poema e alguns outros escritos por ela, foi feito em minha homenagem, aliás, foi feito pensando em mim. Fica melhor assim. Me deu vontade de publicar aqui, dividir com vocês. Para mim, ela escreve muito bem, tem um grande talento, mas ela só escreve para ela. Não gosta de mostrar, inclusive ela não me permitiu publicar foto dela, nem revelar o seu nome. Tudo bem, seja feita a vossa vontade. Para colorir o texto, escolhi umas fotos feitas por Luciana Oliveira, quando estávamos desmontando o cenário da encenação "A cidade sou eu"
"Imagem sem reflexo"
Venho do fim do arco-íris com cores que queiras enxergar...
De onde venho não somos capazes de escolher: apenas recebemos e aceitamos tudo do jeito que são.
Os meus pés não andam em estrada em que sofrem. Só andam rumo à eterna festa sem convite azul...
Não penso. Não falo. Não concordo. Não estou do lado de cá. Não fico com ou sem.
Temo que o olhar dos que me amam fujam de todos que me lembram passado.
Não vivo o presente. Sonho com o presente. Festejo. Curto. Viajo. Vingo. Acordo. Amo. Odeio. O presente é meu. O meu presente tem as cores do arco-íris. Representa o inexplicável inatingível.
Meu futuro é das cartas da cigana Esmeralda. Esmeralda... Minha puta hermafrodita.
A gentileza é meu disfarce. A minha gentileza é minha armadura: arma dura!
A minha fala é da verdade durável como algodão doce vermelho, na rosa da boca do menino que chora nos braços de sua mãe. A minha vinda na sua vida foi rápida como o bater das asas do beija-flor com sexo de beijo na flor. Areia branca do deserto se alegra com sua imagem refletida com as cores do arco-íris"
(Lsa. Itambé-Bahia/14.06.2010)
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