Comecei a escrever o terceiro capítulo e meu deu uma vontade de ouvir os atores que parciparam das ações cênicas. O primeiro a responder minhas questões foi Hugo Camizão. Ator itambeense que estuda teatro no Rio de Janeiro. De férias em Itambé ele colaborou muito com o processo tanto como ator quanto como amigo, fotógrafo, cinegrafista. Aqui, algumas impressões dele sobre o trabalho.
Sobre o projeto:
"Participar desse projeto foi muito forte pra mim, porque estou morando fora de Itambé há algum tempo e ter a chance de atuar na minha cidade natal, junto com amigos meus, com textos de conterrâneos meus, em espaços conhecidos meus, da minha infância, adolescência, onde vivi experiências importantes da minha história, foi maravilhoso".
Sobre a relação das pessoas com a cidade:
"Percebi um afeto pela cidade, uma vontade de que as coisas mudem pra melhor, que rencoheçamos nossos valores artísticos e históricos".
Sobre a encenação no casarão Villa Diolinda:
"Achei a ideia muito boa, porque não havia lugar melhor pra falar de Itambé do que o Casarão Villa Diolinda que tem história viva em suas paredes. A localização geográfica, num ponto alto, ajudou bastante na composição das cenas. Com seus janelões abertos para as montanhas e ruas de Itambé, parecia que nossa visão varria cada lugarzinho da cidade. É como se Itambé fosse condensada naquela espaço, e enquanto acompanhávamos as cenas nas várias partes do Casarão estávamos também passeando por Itambé, seus habitantes e suas vidas".
Sobre os textos:
"Não tem como separar a história do meio em que a gente cresceu da nossa história de vida, e ficou bastante claro nos textos essa ligação cidade/vida. São anseios em comum, de pessoas que conhecem o local onde vivem e sabem que suas histórias estão intimamente ligadas à história de Itambé, logo desejam melhorias na política, na saúde, nas artes etc., porque sabem que estão transformando pra melhor suas próprias vidas". (Hugo Camizão)
sábado, 27 de novembro de 2010
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Ação e discurso - Segundo capítulo
Publico aqui oito tópicos relacionados ao segundo capitulo da dissertação.
1-Como um reflexo do que a sociedade vive, vários artistas foram responsáveis pela transformação do fazer teatral ao longo dos anos como forma de aproximação com o público.
2- Lançar mão do teatro e colocar o cidadão no centro do debate é o maior desafio deste trabalho de mestrado.
3- O que proponho é a realização de ações cênicas como forma de estimular a participação do individuo na cena cultural de sua cidade unindo ação e discurso.
4- E a meta aqui é estar próximo do público. É se confundir com o próprio público, se diluir, se misturar. Quebrar paredes e barreiras que separam e distanciam quem age e quem observa esta ação. O importante é que, em algum momento, todos estejam agindo juntos.
5- Nesta pesquisa apresento as ações não em ordem cronológica, mas, pelo número de habitantes envolvidos e também pelo tempo de preparação necessário para a realização de cada uma delas, além dos trabalhos que necessitaram de reuniões, ensaios e uma produção mais apurada.
6- Com o passar dos dias em Itambé, novas questões surgiam na minha cabeça. A cada ação realizada novos debates se estabeleciam gerando discussões aprofundadas sobre os temas abordados. Um dado importante que sempre surgia nas conversas era a quantidade de jovens e idosos existentes na cidade.
7- Praticar o conceito de ação cênica defendido aqui neste projeto trouxe um novo ritmo ao cotidiano daquelas pessoas, levando em conta que pôr a arte a serviço do urbano não significa de modo algum enfeitar o espaço urbano com objetos de arte (LEFEBVRE, 1991, p.134) mas sim, enchê-lo de vida, estimular as relações entre as pessoas, favorecer o encontro, fazer circular idéias. Um direito de todo cidadão.
8- Agir cenicamente na busca de uma cidade aberta para o fazer artístico. Pensar a cidade a partir da relação de cada morador e assim construir um texto que traduza esta imagem coletiva deste lugar é o próximo passo desta pesquisa.
1-Como um reflexo do que a sociedade vive, vários artistas foram responsáveis pela transformação do fazer teatral ao longo dos anos como forma de aproximação com o público.
2- Lançar mão do teatro e colocar o cidadão no centro do debate é o maior desafio deste trabalho de mestrado.
3- O que proponho é a realização de ações cênicas como forma de estimular a participação do individuo na cena cultural de sua cidade unindo ação e discurso.
4- E a meta aqui é estar próximo do público. É se confundir com o próprio público, se diluir, se misturar. Quebrar paredes e barreiras que separam e distanciam quem age e quem observa esta ação. O importante é que, em algum momento, todos estejam agindo juntos.
5- Nesta pesquisa apresento as ações não em ordem cronológica, mas, pelo número de habitantes envolvidos e também pelo tempo de preparação necessário para a realização de cada uma delas, além dos trabalhos que necessitaram de reuniões, ensaios e uma produção mais apurada.
6- Com o passar dos dias em Itambé, novas questões surgiam na minha cabeça. A cada ação realizada novos debates se estabeleciam gerando discussões aprofundadas sobre os temas abordados. Um dado importante que sempre surgia nas conversas era a quantidade de jovens e idosos existentes na cidade.
7- Praticar o conceito de ação cênica defendido aqui neste projeto trouxe um novo ritmo ao cotidiano daquelas pessoas, levando em conta que pôr a arte a serviço do urbano não significa de modo algum enfeitar o espaço urbano com objetos de arte (LEFEBVRE, 1991, p.134) mas sim, enchê-lo de vida, estimular as relações entre as pessoas, favorecer o encontro, fazer circular idéias. Um direito de todo cidadão.
8- Agir cenicamente na busca de uma cidade aberta para o fazer artístico. Pensar a cidade a partir da relação de cada morador e assim construir um texto que traduza esta imagem coletiva deste lugar é o próximo passo desta pesquisa.
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segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Puxa o fole Zé!
Hoje vou apresentar para vocês mais um entrevistado ilustre de minha pesquisa. Zé de Sula dos Oito Baixos, sanfoneiro dos bons que com muita garra, luta pela preservação e manutenção desta que é uma das mais importantes manifestações culturais da cidade: a arte de tocar sanfona. Zé de Sula começou sua paixão pela música em 1967 tocando em festas no interior, nas roças e nas fazendas. Apreciem um pouco desta arte neste vídeo gravado durante os ensaios do grupo que se preparava para os festejos juninos de 2010.
“Fui me aperfeiçoando cada vez mais. Depois pedi para meu pai comprar uma sanfona de oito baixos para mim. Ai eu comecei a tocar em várias festas. Comecei minha carreira junto com Edgar Mão Branca. Devido a meu pai se chamar Sula, meu nome ficou Zé de Sula dos Oito Baixos, sanfoneiro. E eu continuo na luta até hoje, tocando, aperfeiçoando cada vez mais. Tocando em Itapetinga, Vitória da Conquista, aqui em Itambé e por ai vai. Itambé é um lugar muito bom de viver, de morar. Não tem um meio de vida elevado de empregos, mas é um lugar bom para morar. Aqui eu participo das atividades culturais organizando o encontro de sanfoneiros que tem aqui, participo dessa associação de sanfoneiros e participo dos eventos também. Faço shows. Eu nasci aqui e gosto daqui. Tem o ar puro, a natureza. Gosto da cidade. Aqui falta o livre arbítrio para participar mais. Gostaria de criar uma escola de música para as crianças. Sanfona, triângulo, zabumba para mais tarde eles darem continuidade às festividades e à cultura de nossa cidade”. (Zé de Sula dos Oito Baixos – Sanfoneiro – 58 anos)
“Fui me aperfeiçoando cada vez mais. Depois pedi para meu pai comprar uma sanfona de oito baixos para mim. Ai eu comecei a tocar em várias festas. Comecei minha carreira junto com Edgar Mão Branca. Devido a meu pai se chamar Sula, meu nome ficou Zé de Sula dos Oito Baixos, sanfoneiro. E eu continuo na luta até hoje, tocando, aperfeiçoando cada vez mais. Tocando em Itapetinga, Vitória da Conquista, aqui em Itambé e por ai vai. Itambé é um lugar muito bom de viver, de morar. Não tem um meio de vida elevado de empregos, mas é um lugar bom para morar. Aqui eu participo das atividades culturais organizando o encontro de sanfoneiros que tem aqui, participo dessa associação de sanfoneiros e participo dos eventos também. Faço shows. Eu nasci aqui e gosto daqui. Tem o ar puro, a natureza. Gosto da cidade. Aqui falta o livre arbítrio para participar mais. Gostaria de criar uma escola de música para as crianças. Sanfona, triângulo, zabumba para mais tarde eles darem continuidade às festividades e à cultura de nossa cidade”. (Zé de Sula dos Oito Baixos – Sanfoneiro – 58 anos)
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terça-feira, 2 de novembro de 2010
A voz que não quer calar!
Paulão, como é conhecido por todos em Itambé, é uma pessoa muito importante na minha vida. Quando comecei a fazer teatro, ainda criança, ele foi no grupo de teatro Astral, um dos atores que me encorajava a continuar. Para a realização desta entrevista ele escolheu o casarão que abrigou durante anos a fábrica de latícinios "Garota". Com o fim da fábrica este casarão, patrimônio da cidade, continua abandonado até hoje. Já pensaram em instalar por ali um centro cultural como vocês podem ler nas letras em azul, quase apagadas pelo tempo: Centro Cultural Pedra Afiada. Hoje o local é utilizado para ensaios de bandas musicais o que compromete a estrutura por conta do som emitido pelos instrumentos. Os artistas cansaram de lutar pela preservação deste espaço. Segue aqui um pouco da entrevista com este itambeense ilustre.
"Eu sou Paulo Ferreira Silva, conhecido como Paulão, tive uma infância sofrida. Não passei fome, mas passei muita necessidade, onde folha de quiabo já serviu como feijão na nossa casa. Sou facilmente de ser levado, conquistado, mas por muito pouca coisa posso romper uma amizade. Fiz teatro (Grupo Astral) fui criado como um bom católico. Tive essa base religiosa, fui muito ativo em minha religião. Mas depois eu resolvi sair do catolicismo. Fui chefe do grupo de Escoteiros, fui diretor do Coral da igreja, presidente do grupo de jovens. Aprendi muita coisa, especialmente com o Padre Juracy, mas achei por bem não ficar na igreja. Me tornei um protestante. Passei pela igreja Batista, Adventista e há dez anos estou na igreja Testemunhas de Jeová. Hoje eu sou feliz, tenho uma família boa. Duas filhas maravilhosas, uma esposa maravilhosa.
Itambé é uma cidade boa, foi onde eu nasci e cresci. Tem uma história parecida com a minha. Uma cidade sofrida, muito explorada ao mesmo tempo que é uma cidade muito rica. Foi perdendo com o tempo sua originalidade. Essa fábrica, por exemplo, exportava queijo e manteiga para todo Brasil. Acabou. Tá fechada. Aqui tinha três agências bancárias, hoje só existe uma. Muita gente adquiriu riqueza e foi viver fora daqui. Tudo que a cidade tinha foi perdido: os minérios, as madeiras, os rios.
Aqui eu passei grande parte de minha infância. Um período de grande pobreza. A gente vinha aqui pegar soro do leite pra se alimentar. Naquela época quando um pobre tinha acesso à carne era por conta do osso. Não tinha carne na casa do pobre. Esse casarão é histórico na cidade e deveria ser tombado. Aqui os coronéis prendiam pessoas para matá-las depois. Eles trocavam tiros dessas janelas. Aqui é o lugar mais importante da cidade pra mim.
Todo movimento cultural na cidade é movido pela política. Ou é a favor dos mais fortes ou a favor dos mais fracos. Você não tem motivação para ser uma pessoa da cultura na cidade. Livre. A cultura aqui é escrava.
Aqui já teve o grupo de Teatro Astral que acabou com o tempo. Não tivemos apoio nem motivação para continuarmos trabalhando. Tem muita coisa acontecendo nos colégios, mas na cidade, fora dos colégios, nada acontece. Entre as manifestações tínhamos o carnaval que era o melhor da região.
A única coisa que me faz permanecer aqui é o amor por essa cidade. Quem tem comércio aqui sofre junto com a cidade, porque o movimento no comércio aqui só acontece no final do mês, fora isso, as pessoas compram no comercio de Conquista. O que segura a gente neste lugar se não o amor?
O povo de Itambé não perde o vigor. Nós estamos dispostos a dar vida pela cidade. Tem muita gente assim aqui. Muitas estão indo embora, mas tem ainda gente que pode dar vida por esta cidade". (Paulo Ferreira, Comerciante, 48 anos)
"Eu sou Paulo Ferreira Silva, conhecido como Paulão, tive uma infância sofrida. Não passei fome, mas passei muita necessidade, onde folha de quiabo já serviu como feijão na nossa casa. Sou facilmente de ser levado, conquistado, mas por muito pouca coisa posso romper uma amizade. Fiz teatro (Grupo Astral) fui criado como um bom católico. Tive essa base religiosa, fui muito ativo em minha religião. Mas depois eu resolvi sair do catolicismo. Fui chefe do grupo de Escoteiros, fui diretor do Coral da igreja, presidente do grupo de jovens. Aprendi muita coisa, especialmente com o Padre Juracy, mas achei por bem não ficar na igreja. Me tornei um protestante. Passei pela igreja Batista, Adventista e há dez anos estou na igreja Testemunhas de Jeová. Hoje eu sou feliz, tenho uma família boa. Duas filhas maravilhosas, uma esposa maravilhosa.
Itambé é uma cidade boa, foi onde eu nasci e cresci. Tem uma história parecida com a minha. Uma cidade sofrida, muito explorada ao mesmo tempo que é uma cidade muito rica. Foi perdendo com o tempo sua originalidade. Essa fábrica, por exemplo, exportava queijo e manteiga para todo Brasil. Acabou. Tá fechada. Aqui tinha três agências bancárias, hoje só existe uma. Muita gente adquiriu riqueza e foi viver fora daqui. Tudo que a cidade tinha foi perdido: os minérios, as madeiras, os rios.
Aqui eu passei grande parte de minha infância. Um período de grande pobreza. A gente vinha aqui pegar soro do leite pra se alimentar. Naquela época quando um pobre tinha acesso à carne era por conta do osso. Não tinha carne na casa do pobre. Esse casarão é histórico na cidade e deveria ser tombado. Aqui os coronéis prendiam pessoas para matá-las depois. Eles trocavam tiros dessas janelas. Aqui é o lugar mais importante da cidade pra mim.
Todo movimento cultural na cidade é movido pela política. Ou é a favor dos mais fortes ou a favor dos mais fracos. Você não tem motivação para ser uma pessoa da cultura na cidade. Livre. A cultura aqui é escrava.
Aqui já teve o grupo de Teatro Astral que acabou com o tempo. Não tivemos apoio nem motivação para continuarmos trabalhando. Tem muita coisa acontecendo nos colégios, mas na cidade, fora dos colégios, nada acontece. Entre as manifestações tínhamos o carnaval que era o melhor da região.
A única coisa que me faz permanecer aqui é o amor por essa cidade. Quem tem comércio aqui sofre junto com a cidade, porque o movimento no comércio aqui só acontece no final do mês, fora isso, as pessoas compram no comercio de Conquista. O que segura a gente neste lugar se não o amor?
O povo de Itambé não perde o vigor. Nós estamos dispostos a dar vida pela cidade. Tem muita gente assim aqui. Muitas estão indo embora, mas tem ainda gente que pode dar vida por esta cidade". (Paulo Ferreira, Comerciante, 48 anos)
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