"Itambé está imersa em uma paisagem-cenário. Descer o planalto de Conquista em direção aos vales pedregosos dos rios Pardo e Verruga é submergir numa paisagem de névoas e sonhos, ônibus deslizando sonolento por curvas de estrada sinuosa revelando o tempo todo quadros e mais quadros em perspectiva. Sempre deslizando por entre curvas em perspectiva.
A paisagem humana que se revela após a descida é uma mistura de rural e urbano, de feiras animadas, procissões e missas. O que aparece de perto é uma paisagem de comunidades eclesiais espalhadas por todos os bairros da cidade. Comunidades ativas e participantes do cotidiano da cidade. Pequena cidade de praças de todo o tamanho, ligadas por ruas calçadas de pedras. Praças algumas vezes abandonadas, outras vezes apropriadas, usadas como extensão da casa, a rua virando casa, uma extensão da casa.
Itambé acolhedora, de cadeiras na porta, debruçadas sobre a calçada, churrasco e ensopado de peixe no quintal, carne de sol e aipim divinos, ouvindo os causos de Lô, tarde em ilhas fluvias, iluminadas pelo sol serrano e implacável.
Itambé amedrontada e recolhida nas casas, a renúncia ao espaço público pelo conforto e segurança da esfera privada da família.
Itambé de escolas, mas sem universidade presencial, cidade pequena a inspirar grandes sonhos.
Itambé-cenário, a inspirar invasões teatrais e ações cênicas. Pedra afiada à espera da invasão, da subversão iminente."
(Angelo Serpa, 3 de maio de 2010, na metrópole soteropolitana, à beira-mar e distante das montanhas.)
"APLAUSOS"
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