"Quelle invitation ! quel cadeau ! quel accueil m´a venue à Itambé.
Je suis arrivé à Itambé au moment du déjeuné par une route sinueuse qui traverse un océan de montagne verte, bercé par un autobus qui alimentait mes rêves d’un Brésil immense et doux, le ciel était infini et un sentiment de liberté m´a envahi.
"Que convite! Que presente! Que acolhimento eu tive em Itambé!
Eu cheguei em Itambé no momento do café da manhã, por uma estrada sinuosa que atravessa um oceano de montanhas verdes, levado por um ônibus que alimentava meus sonhos de um Brasil imenso e doce. O céu era infinito e um sentimento de liberdade me invadiu. O convite foi este que Marcelo me propôs, de passar uma semana com ele nessa cidade. O presente foi de dividir com ele um momento de seu projeto, projeto que eu conheci através deste blog, mas como minha lingua não é o português eu não percebia bem as razões e os objetivos de seu projeto.
Eu tomei como um presente, de uma grande confiança de sua parte. E, no momento em que escrevo, eu tenho medo de não estar à altura deste presente. Seu projeto é de ir ao encontro das pessoas, e de dividir com elas sua vida através de um diálogo, de dividir o futuro deles, suas esperanças, afim de fazer um espetáculo na cidade. Isto foi para mim de uma grande humanidade, e eu reconheci em mim algumas de minhas próprias esperanças, eu não me senti diferente dos habitantes de Itambé.
Mais uma vez, um processo artístico me abriu os olhos e criou uma passarela entre as pessoas, um diálogo possível revelado por este processo artístico, pelos homens e mulheres que criam ligações e sentidos em nossas vidas. Existe no mundo um grande número de pequenas cidades, onde o tempo parece ter parado, onde as bibliotecas parecem ser uma vaga lembrança e onde a gente sente a presença dos fantasmas do passado. Estas cidades, onde a televisão reina e quando chega o fim de semana o único passatempo é o alcool, para esquecer a dureza da vida, do trabalho. Estas cidades onde as igrejas estão cheias, pois elas são o único lugar de comunhão e de encontro onde eles vão dividir um momento com seus amigos e vizinhos.
Estas cidades onde os teatros estão vazios de sentido e de pessoas; quando eu entrei no teatro de Itambé eu senti muita tristeza, pois, abrindo a porta, ele estava vazio como uma concha, somente algumas meninas ensaiavam alguns passos de dança, como a gente pode ver na televisão do mundo inteiro, com um barulho ensurdecedor.
Eu fiquei super tocado pelo projeto de Marcelo, de criar um espetáculo em sua cidade natal, se inspirando na vida de seus habitantes, de suas histórias. Isto é para mim um ato político maior, mas político no sentido etmológico do termo, quer dizer, a ciência da vida da cidade, participar da vida de sua cidade.
Muito obrigado, Marcelo, por seu trabalho, pelas caminhadas noturnas, e obrigado também às pessoas de Itambé".
(Jean Dauriac - Técnico de luz do Centro Internacional de Criação Teatral - Dirigido por Peter Brook - Paris/França)