Meus queridos e queridas, este blog foi criado para ser o diário de bordo da pesquisa de campo para meu Mestrado, junto ao Programa de Pós Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia, com o apoio do CNPq. O trabalho intitulado "Pedra Afiada - Um convite para o teatro invadir a cidade" foi orientado pela Prof. Dra. Angela Reis. A pesquisa de campo foi realizada em Itambé, no sudoeste da Bahia, de março a agosto de 2010, onde alimentei este blog com informações e reflexões sobre a pesquisa e a escritura da dissertação. Depois de concluido o Mestrado (março/2011) o blog será utilizado como forma de divulgar e refletir os andamentos da cultura na cidade de Itambé. Esta é uma forma também de discutir a cultura em cidades de pequeno porte do interior da Bahia e do Brasil. Conto com a visita de todos. Ah, uma dica, como este blog funciona como um diário, para os marinheiros de primeira viagem é melhor acompanhá-lo de baixo para cima. Então busquem o primeiro post e boa viagem!!!
Depois de apresentar um artigo
sobre o poder do teatro no cotidiano das cidades como parte da programação do Simpósio
Internacional “Teatro: estética e poder” na Faculdade de Letras da Universidade
de Lisboa e conferir uma palestra na Universidade Nova de Lisboa, sobre o
processo que envolveu a escrita do livro “O teatro invadindo a cidade” de minha
autoria, e que teve Itambé como base para a pesquisa é que venho propor a
realização da ação cênica “Ler a/na cidade”. Durante minha estadia em Portugal,
precisamente na cidade de Lisboa fui questionado várias vezes a respeito da
continuidade de minhas proposições artísticas e políticas junto aos moradores
da cidade e me veio a necessidade de propor essa ação também estimulado pela
iniciativa de um grupo de professores do Colégio Gilberto Viana que organiza o evento “Biblioteca Itinerante”.
Considerando a leitura uma forma
de ver e ler o mundo é que proponho essa nova ação cênica e para isso preciso
da participação dos interessados em viajar pelo mundo da leitura, mas também em
refletir a cidade através do encontro que o ato de ler pode nos proporcionar.
Assim, quem tiver interesse em participar, nos encontraremos no dia 18/12
às 17:00hs na Praça da Igreja Matriz onde definiremos em conjunto, os
princípios da ação que acontecerá no dia 19/12 à partir das 16:00hs. Pessoas de todas as idades são bem vindas e não é preciso estar vinculado a nenhuma escola!
Basta aparecer, qualquer dúvida
resolvemos pelo facebook!
Nesse período de festas juninas
grande parte das cidades do nordeste usa esses dois conceitos para definir suas
festividades. Não foi diferente com Itambé, no sudoeste da Bahia, e, depois de
passar os três dias de festa na cidade, me veio a pergunta: como manter uma
tradição sem negar a modernidade? A cidade enfrenta um momento crítico de
ajuste de contas com a mudança do governo, mas também por problemas gerados
pela seca. Assim a administração não pôde pleitear verbas para a organização da
festa junina deste ano. Para driblar a crise e não desapontar os moradores foi
investido o mínimo possível e com isso foram organizadas festas nos bairros da
cidade, o retorno a uma tradição que estava esquecida nos últimos anos,
conhecida por todos por “Poeirão”. Nos dias principais da festa junina, a
organização arriscou mudar o lugar da festa da Praça San Filli, uma área
construída para esses festejos, para a Praça São José, correndo o risco de
rejeição por parte da população. Mas foi uma ousadia que teve seus pontos
positivos, como, por exemplo, concentrar mais o público e economizar em
decoração e estrutura. Mas aí eu retorno ao título dessa postagem para concluir
que mesmo se tratando de economia, a modernidade se faz necessária no diálogo
com as tradições. É possível organizar uma festa com recursos mínimos: basta
solicitar o apoio da população, fazer com que os habitantes, mesmo que poucos,
se sintam responsáveis pela festa. Formar uma comissão, unir forças, dividir
tarefas, trabalhar em conjunto e com vontade para que tudo dê certo. A
organização da festa também precisa ser uma festa, um motivo de encontro e
prazer. Depois disso, elaborar uma programação que esteja dentro desse orçamento,
mas, aí sim, vem a tradição, nessa lista de atrações é preciso que a boa música
seja priorizada. Vamos deixar arrochas e axés para as inúmeras festas
particulares que existem por aí. Na rua, o povo quer mais é o bom e velho
forró. Simples assim. Agora vamos à modernidade. Nenhum trio nordestino, por
mais simples que seja, consegue fazer uma boa apresentação sem equipamentos
dignos de som e luz, então mesmo que com baixo custo esses itens precisam de um
pouco mais de investimento. Outro ponto que tirou um pouco o brilho da festa
foi a divisão da cidade. Em Itambé, mesmo com o passar dos anos, os habitantes
ainda se dividem em função de grupos políticos que governam a cidade e, por
isso, não é de se estranhar que alguns moradores se recusem a frequentar a
festa ou que outros moradores compareçam para apontar defeitos e falhas. Uma
pena. A cidade poderia aproveitar esse momento para se unir, tentar acabar com
esse comportamento que atravessa gerações e impede o progresso, porque não dá
para uma cidade evoluir dividida, mesmo porque, seja lá quem for o governante,
é para o povo e para todos que se governa. E se todos estivessem juntos, a
festa teria sido melhor do que foi e essa tradição poderia estar garantida e
vivida por todos. É de encher o coração de esperança quando, andando pelas
ruas, percebemos que algumas famílias ainda mantêm a tradição de decorar a rua,
a frente da casa, preparar a mesa farta para receber os convidados e
familiares. É de lavar a alma estar na sua cidade, sentar na porta de casa com
os amigos, comendo e bebendo o que foi preparado ali mesmo com tanto carinho e
conversar sobre a vida. A festa propicia o encontro e isso é sempre um motivo
para retornar. É preciso estimular essas ações dos moradores. Fazer a
programação de uma festa como essa também não é fácil. É preciso agradar a
todos: itambeenses, visitantes, jovens, adultos, tradicionalistas e
modernistas, mas uma coisa é certa: não tem quem não goste do que é bem feito. E
foi lindo ver todos dançando ao som de Juá da Bahia e sua banda, que, para mim,
traduz o que é a boa música. Um repertório que passeia pelo que há de melhor do
cancioneiro junino, mas também aliado a toques de modernidade em seus arranjos
e vocais. Nesse momento da festa, estavam todos numa mesma vibração, num só
ritmo, juntos fazendo daquele instante uma verdadeira festa.
O que fica dessa edição dos
festejos juninos é que vale sim à pena correr riscos e apostar em algo novo,
mas é preciso refletir e analisar o que pode ser melhorado já que essa
administração está no começo dos trabalhos. E se assim for feito tenho certeza de
que o São João do ano que vem será o mais tradicional e o mais moderno de todos
os tempos. E a organização da festa desse ano pode dormir tranquila porque o
possível foi feito, mas o melhor está sempre por vir!
Fotos e vídeos: Marcelo Sousa Brito
Tradição: A tradição é um
conjunto de costumes e crenças que remonta tempos antigos, praticados por
nossos antepassados e transmitidos de geração em geração com o objetivo de
serem preservados. Variam da cultura de cada povo e região e fazem parte de um
contexto histórico-temporal, onde são aceitos e praticados pelo senso comum da
sociedade. Fazem parte das tradições: lendas, mitos, práticas religiosas,
danças, músicas, vestimentas, pratos típicos, brinquedos, jogos, artesanatos,
decorações, histórias, valores e comportamentos. Tais conhecimentos são
transmitidos de forma oral e/ou escrita.
Modernidade: tem
um carácter de conquista pelo Homem moderno, da sua autonomia e da vontade de
inventar e criar técnicas novas, ou seja, projetos racionalistas que têm o seu
auge com a filosofia cartesiana.
Nos nossos tempos, a modernidade associada a ideias de positivismo, otimismo e
fé no progresso, inspira as maiores reservas e algumas críticas por parte de
alguns filósofos contemporâneos de diversas correntes de pensamento.
É com prazer, emoção e sensação de dever cumprido mas nem por isso finalizado, que comunico a todos meus conterrâneos o lançamento do livro "O teatro invadindo a cidade". O lançamento foi promovido pela Edufba (Editora da Universidade Federal da Bahia) no dia 02 de abril de 2013, no auditório da Faculdade de Comunicação (UFBA). Neste dia dividi esse prazer com mais oito autores e com muitos amigos que se fizeram presentes. Bela Serpa, Angelo Serpa, Tatiane Carcanholo, Amós Heber, Gabriela Leite, Paulo Tiago Leite, Dejalmir Melo, Isadora Browne Ribeiro, Saulo Robledo, Marcia Andrade, Marcia Cordeiro, Thiana Biondo, Keu, Greicy, Rita Ortiz, Marielson Carvalho, André Nunes, Silvinha Torres, Vinicius Carmezin, Filipe Mateus, Gessé de Campos, Tom Conceição, Carol Teixeira, Sérgio Borges, Henrique Araújo, Mariana Vilhena, Jacileda Cerqueira Santos, André Nunes de Sousa, Caroline Bulhões, Lenine Guevara, Duto Rosa, Luciana Lucca, Neila Kadhi, Vaninha Vieira e a presença mais que especial de duas amigas de infância representando todos os itambeenses: Ieda Teixeira e Andréia Rocha.
Foi realmente uma noite de celebração.
Agora vamos batalhar o lançamento em nossa cidade para o prazer ser completo. Quero dividir essa alegria com todos os moradores que participaram do processo!
Fotos: Gabriela Leite e Paulo Tiago Leite.
Ótima notícia para nós itambeenses, o livro "O teatro invadindo a cidade" que tem como base de pesquisa a cidade de Itambé será lançado na Unicamp (Campinas). Abaixo segue matéria sobre o lançamento no jornal Correio Popular! Em breve estaremos articulando o lançamento na nossa cidade!
Em obra de diretor teatral baiano, a cidade é um palco
Livro é resultado de experiências promovidas pelo autor em sua cidade natal
Resultado de dissertação de mestrado do ator e diretor baiano Marcelo Sousa Brito, o livro 'O Teatro Invadindo a Cidade' narra as experiências promovidas pelo autor em Itambé (BA), sua cidade natal, durante a pesquisa de campo defendida no Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
O lançamento da obra nesta segunda-feira (18) abre as atividades do 'Simpósio Reflexões Cênicas Contemporâneas', sob coordenação do ator-pesquisador Renato Ferracini, do Lume Teatro, “Quis mostrar a relação do cidadão com sua cidade, tratando-a como uma obra de arte. Escolhi uma cidade de pequeno porte, com cerca de 30 mil habitantes e fora do grande centro, portanto, sem muito acesso a ações culturais”, explica Brito. “A ideia foi ver como as pessoas podem tratar sua cidade.”
Brito conta que se valeu de recursos da geografia, da fenomenologia e da dramaturgia para desenvolver ações cênicas com a participação dos moradores, ocupando os espaços públicos da cidade. “Usei várias linhas para estimular os cidadãos a agirem cenicamente, a ocuparem os espaços que não devem ser somente de passagem, mas podem se tornar pontos de encontro, de lazer e de cultura”, diz o ator. “A proposta também era mostrar como o cidadão pode reivindicar mais cultura, como se posicionar frente a essas questões.”
O ponto de partida foi a realização de entrevistas com os habitantes de Itambé. “Queria saber sobre suas relações afetivas com os diferentes lugares da cidade, que também serviram de base para a escrita coletiva de um texto final — A Cidade Sou Eu — que se encontra no livro como anexo e foi encenado em um casarão histórico localizado na praça da Igreja Matriz em 2010.”
Na obra, dividida em três capítulos, Brito discorre sobre os métodos utilizados para engajar e conscientizar os moradores de Itambé acerca de questões relacionadas com a cidade e com a arte, sobre as oficinas e exercícios teatrais desenvolvidos para transformar seus próprios depoimentos nos textos das ações cênicas, assim como sobre a mobilização da população em torno dessas ações. O livro traz ainda fotos e mapas que ilustram como e onde as ações ocorreram.
O 'Simpósio Reflexões Cênicas Contemporâneas' é realizado em paralelo ao Terra Lume e Cursos de Fevereiro, realizados pelo Lume Teatro. Brito está em Campinas desde o início de mês participando dos cursos. “Participei da oficina Abre-Alas, com o Ricardo Puccetti e Ana Cristina Colla, e agora farei o curso do Renato Ferracini, O Corpo como Fronteira. Estou fazendo laboratório em Barão Geraldo tanto para meu doutorado, que segue a mesma linha do mestrado, como para minhas pesquisas pessoais. Estou aproveitando para entrevistar pesquisadores em artes cênicas aqui”, explica o ator.
Nasci na cidade de Itambé, sudoeste da Bahia e moro em Salvador onde fundei com alguns amigos o Coletivo Cruéis Tentadores. www.crueistentadores.blogspot.com Sou ator e diretor, formado em Direção Teatral pela Escola de Teatro da UFBA, Mestre em Artes Cênicas-PPGAC-UFBA. Vocês podem acompanhar o desenvolvimento do processo aqui neste blog.