Nesse período de festas juninas
grande parte das cidades do nordeste usa esses dois conceitos para definir suas
festividades. Não foi diferente com Itambé, no sudoeste da Bahia, e, depois de
passar os três dias de festa na cidade, me veio a pergunta: como manter uma
tradição sem negar a modernidade? A cidade enfrenta um momento crítico de
ajuste de contas com a mudança do governo, mas também por problemas gerados
pela seca. Assim a administração não pôde pleitear verbas para a organização da
festa junina deste ano. Para driblar a crise e não desapontar os moradores foi
investido o mínimo possível e com isso foram organizadas festas nos bairros da
cidade, o retorno a uma tradição que estava esquecida nos últimos anos,
conhecida por todos por “Poeirão”. Nos dias principais da festa junina, a
organização arriscou mudar o lugar da festa da Praça San Filli, uma área
construída para esses festejos, para a Praça São José, correndo o risco de
rejeição por parte da população. Mas foi uma ousadia que teve seus pontos
positivos, como, por exemplo, concentrar mais o público e economizar em
decoração e estrutura. Mas aí eu retorno ao título dessa postagem para concluir
que mesmo se tratando de economia, a modernidade se faz necessária no diálogo
com as tradições. É possível organizar uma festa com recursos mínimos: basta
solicitar o apoio da população, fazer com que os habitantes, mesmo que poucos,
se sintam responsáveis pela festa. Formar uma comissão, unir forças, dividir
tarefas, trabalhar em conjunto e com vontade para que tudo dê certo. A
organização da festa também precisa ser uma festa, um motivo de encontro e
prazer. Depois disso, elaborar uma programação que esteja dentro desse orçamento,
mas, aí sim, vem a tradição, nessa lista de atrações é preciso que a boa música
seja priorizada. Vamos deixar arrochas e axés para as inúmeras festas
particulares que existem por aí. Na rua, o povo quer mais é o bom e velho
forró. Simples assim. Agora vamos à modernidade. Nenhum trio nordestino, por
mais simples que seja, consegue fazer uma boa apresentação sem equipamentos
dignos de som e luz, então mesmo que com baixo custo esses itens precisam de um
pouco mais de investimento. Outro ponto que tirou um pouco o brilho da festa
foi a divisão da cidade. Em Itambé, mesmo com o passar dos anos, os habitantes
ainda se dividem em função de grupos políticos que governam a cidade e, por
isso, não é de se estranhar que alguns moradores se recusem a frequentar a
festa ou que outros moradores compareçam para apontar defeitos e falhas. Uma
pena. A cidade poderia aproveitar esse momento para se unir, tentar acabar com
esse comportamento que atravessa gerações e impede o progresso, porque não dá
para uma cidade evoluir dividida, mesmo porque, seja lá quem for o governante,
é para o povo e para todos que se governa. E se todos estivessem juntos, a
festa teria sido melhor do que foi e essa tradição poderia estar garantida e
vivida por todos. É de encher o coração de esperança quando, andando pelas
ruas, percebemos que algumas famílias ainda mantêm a tradição de decorar a rua,
a frente da casa, preparar a mesa farta para receber os convidados e
familiares. É de lavar a alma estar na sua cidade, sentar na porta de casa com
os amigos, comendo e bebendo o que foi preparado ali mesmo com tanto carinho e
conversar sobre a vida. A festa propicia o encontro e isso é sempre um motivo
para retornar. É preciso estimular essas ações dos moradores. Fazer a
programação de uma festa como essa também não é fácil. É preciso agradar a
todos: itambeenses, visitantes, jovens, adultos, tradicionalistas e
modernistas, mas uma coisa é certa: não tem quem não goste do que é bem feito. E
foi lindo ver todos dançando ao som de Juá da Bahia e sua banda, que, para mim,
traduz o que é a boa música. Um repertório que passeia pelo que há de melhor do
cancioneiro junino, mas também aliado a toques de modernidade em seus arranjos
e vocais. Nesse momento da festa, estavam todos numa mesma vibração, num só
ritmo, juntos fazendo daquele instante uma verdadeira festa.
O que fica dessa edição dos
festejos juninos é que vale sim à pena correr riscos e apostar em algo novo,
mas é preciso refletir e analisar o que pode ser melhorado já que essa
administração está no começo dos trabalhos. E se assim for feito tenho certeza de
que o São João do ano que vem será o mais tradicional e o mais moderno de todos
os tempos. E a organização da festa desse ano pode dormir tranquila porque o
possível foi feito, mas o melhor está sempre por vir!
Fotos e vídeos: Marcelo Sousa Brito
Tradição: A tradição é um
conjunto de costumes e crenças que remonta tempos antigos, praticados por
nossos antepassados e transmitidos de geração em geração com o objetivo de
serem preservados. Variam da cultura de cada povo e região e fazem parte de um
contexto histórico-temporal, onde são aceitos e praticados pelo senso comum da
sociedade. Fazem parte das tradições: lendas, mitos, práticas religiosas,
danças, músicas, vestimentas, pratos típicos, brinquedos, jogos, artesanatos,
decorações, histórias, valores e comportamentos. Tais conhecimentos são
transmitidos de forma oral e/ou escrita.
Modernidade: tem
um carácter de conquista pelo Homem moderno, da sua autonomia e da vontade de
inventar e criar técnicas novas, ou seja, projetos racionalistas que têm o seu
auge com a filosofia cartesiana.
Nos nossos tempos, a modernidade associada a ideias de positivismo, otimismo e fé no progresso, inspira as maiores reservas e algumas críticas por parte de alguns filósofos contemporâneos de diversas correntes de pensamento.
Nos nossos tempos, a modernidade associada a ideias de positivismo, otimismo e fé no progresso, inspira as maiores reservas e algumas críticas por parte de alguns filósofos contemporâneos de diversas correntes de pensamento.
Fonte: Dicionário Aurélio.